Coincidências

 


Há quem defenda que não existem coincidências, mas, como dizem os Espanhóis “que las hay, hay! A estória que vos vou contar demonstra, apofenias à parte, que elas parecem existir.

Eugénio já conhecia o Rómulo doutras vidas. Alto, atlético, extrovertido e de sorriso largo, o Rómulo era o Diretor Comercial da Lusilise – Leasings e Financiamentos, SA, Empresa a que se tinha juntado recentemente, depois de mais de vinte anos a liderar Departamentos de Recursos Humanos de empresas de diversos setores de atividade. Tinham tido diversas interações no passado, nomeadamente no campo académico.

Sempre tivera com ele uma relação simpática e cordial, pelo que estranhou quando ele se lhe dirigiu denotando alguma gravidade:

– Oh Dr Eugénio então o senhor já está na Lusilise há um mês e anda a assinar declarações de rendimentos de trabalhadores da sua anterior empresa.

– Eu, Rómulo? – respondeu Eugénio com ar descrente, continuando – só pode ser engano ou então uma declaração assinada no tempo que ainda trabalhava COP – Construção & Obras Públicas.

– Não, a declaração foi assinada há três dias, refutou Rómulo – estendendo um papel na direção de Eugénio.

Eugénio olhou para a declaração e facilmente demonstrou que, embora o seu nome constasse como declarante no documento, a assinatura não era a sua. Alguém tinha assinado, como se fosse ele, uma declaração da remuneração auferida por um colaborador da COP chamado Humberto, para efeitos de acesso a um contrato de leasing de um automóvel, negócio a que se dedicava a Lusolise. Pediu ao Rómulo uns dias para investigar a situação

Decidiu fazer alguns telefonemas que lhe permitissem esclarecer o que se tinha passado. O primeiro foi para a Célia, a sua antiga Chefe de Serviços Administrativos, área que tem a responsabilidade pela emissão daquele tipo de declarações. Rapidamente percebeu que ela não sabia de nada e que o documento não tinha sido ali elaborado. O mais estranho é que pôde constatar que o conteúdo da declaração estava correto, nomeadamente, a situação familiar e a remuneração auferida pelo trabalhador.

Ligou depois para o Humberto, um jovem gestor de projetos que ele tinha recrutado cerca de três anos antes e de quem tinha uma excelente opinião profissional e pessoal.

– Boa tarde Humberto, fala Eugénio. Como está?

– Bem – respondeu Humberto, dando sinais de estranhar aquela chamada – há uns tempos que não falamos. Como está a correr o seu novo desafio?

– Bastante bem, Humberto – disse Eugénio, acrescentado – É sobre isso que lhe quero falar. Não sei se sabe, mas a minha nova empresa é a Lusilite, dos leasings automóveis – Altura em que sentiu algum desconforto no outro lado da ligação – e num processo de aprovação dum leasing automóvel para si, recebemos aqui uma declaração dos seus rendimentos que tem uma falsificação grosseira da minha assinatura. Sabe o que se passa?

Do outro lado, houve alguns segundos de silêncio e depois surgiu a voz do Humberto, dando sinais de desconforto e preocupação.

– Oh Dr Eugénio, desculpe. Foi uma criancice minha. Pode verificar que o salário declarado é o correto. Eu podia ter pedido à Dona Célia para emitir a declaração, mas para evitar trabalho, fiz eu a declaração e assinei por si. Eu nunca poderia imaginar que tivesse ido trabalhar precisamente para a empresa em que eu estava a pedir o leasing. Sei que foi muito errado da minha parte, mas não tinha más intenções. Não fosse esta coincidência e ninguém teria saído prejudicado.

– Pois é, Humberto. Não sei se há coincidências, mas, pelo menos, acasos, casualidades e imprevistos acontecem. Espero que lhe sirva de lição.

José Bancaleiro

Managing Partner

Stanton Chase International – Your Leadership Partner

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